Na terça-feira, 9 de setembro de 2025, um dos maiores choques da história das eliminatórias sul-americanas aconteceu em solo boliviano: Bolívia venceu o Brasil por 1 a 0, em partida válida pela última rodada das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. O gol da vitória foi marcado por Miguel Terceros, que converteu uma penalidade no primeiro tempo. O resultado não só garantiu à Bolívia uma vaga no playoff intercontinental, mas também impôs a Carlo Ancelotti — recém-chegado à seleção — sua primeira derrota como técnico da Seleção Brasileira.
Quem imaginava que a Bolívia, com apenas 20 pontos em 18 jogos e um saldo de gols negativo de 18, poderia derrotar o Brasil, líder histórico de títulos mundiais? Ninguém. Mas o futebol, às vezes, não obedece aos rankings. O Brasil entrou em campo com a missão de garantir o quinto lugar, e conseguiu — mas a preço de um trauma coletivo. A equipe de Ancelotti teve 65% de posse de bola, 18 chutes (sete no alvo), mas falhou em transformar oportunidades em gols. O momento mais dramático veio aos 95 minutos, quando Raphinha, do Barcelona, disparou uma bomba de esquerda. A bola parecia certa. Até que Carlos Lampe, o goleiro boliviano de 34 anos, fez uma defesa que entrará para os livros de história. O reflexo foi de outro mundo.
“Nós não jogamos mal”, disse Ancelotti após o jogo, com a voz pesada. “Mas faltou inteligência, faltou decisão. E quando você enfrenta uma equipe que joga com o coração, como a Bolívia, isso pesa.” Ele não escondeu a frustração. “Não é o fim do mundo. Mas é o fim de uma era. E nós precisamos entender isso.”
As estatísticas são assustadoras: 6 derrotas em 18 jogos, 12 gols marcados, 19 sofridos. O pior desempenho defensivo desde 1994. E a pressão sobre a CBF cresce. Afinal, o que aconteceu com um time que tinha Neymar, Vinícius Jr., Rodrygo, Endrick e um elenco recheado de jogadores de alto nível? A resposta é simples: falta de identidade. E de liderança.
“Isso não é sorte”, disse o técnico Sánchez, com os olhos marejados. “É trabalho. É respeito. É acreditar que, mesmo sendo pequenos, podemos vencer gigantes.” A Bolívia agora enfrentará um time de outra confederação — provavelmente da Oceania ou da Ásia — em um jogo único, em casa, para tentar alcançar a Copa do Mundo. É o seu primeiro playoff desde 2010. E desta vez, acredita-se que eles podem ir mais longe.
Enquanto isso, a Bolívia celebra. E espera. O futebol mudou. O mundo viu que, mesmo com poucos recursos, a paixão pode derrubar impérios. E talvez, só talvez, isso seja o começo de algo maior.
A Bolívia classificou-se em sexto lugar por ter um saldo de gols melhor que o Chile, que terminou em último com 11 pontos. Embora tenha perdido 10 jogos, a equipe venceu confrontos diretos importantes, como contra a Venezuela e o Peru, e aproveitou bem os empates fora de casa. O resultado da Colômbia contra a Venezuela, que terminou 3-1, foi o que fechou a classificação, garantindo à Bolívia a vaga no playoff intercontinental.
O Brasil nunca havia terminado uma campanha de classificação com apenas 52% de aproveitamento (28 pontos em 54 possíveis). A campanha anterior mais fraca foi em 2002, com 56%. Além disso, foi a primeira vez desde 1994 que o Brasil perdeu para a Bolívia em eliminatórias — e a primeira vez que perdeu em casa da Bolívia desde 1985. A combinação de resultados ruins, falta de inspiração e derrota histórica torna esta a pior campanha em termos de desempenho e impacto psicológico.
Carlos Daniel Lampe Heredia, 34 anos, é o goleiro titular da Bolívia desde 2017 e atua pelo Club Bolívar. Conhecido por sua agilidade e liderança, ele fez 12 defesas na partida contra o Brasil, incluindo a salvação decisiva contra Raphinha no fim do jogo. É o segundo goleiro mais velho a defender a seleção boliviana em uma eliminatória, e sua atuação foi comparada à de Dida em 2006 — quando o Brasil venceu a Itália por 2-1 com uma defesa heróica.
Ancelotti permanece no cargo, mas a pressão aumenta. A CBF já iniciou uma avaliação interna sobre a estrutura da seleção, com foco na renovação do elenco e na contratação de um coordenador técnico. Os amistosos de novembro contra Senegal e Tunísia serão testes cruciais. Jogadores como Endrick e Vinícius Jr. devem assumir mais responsabilidade, mas a ausência de um líder natural no vestiário é um problema sério. Muitos torcedores já pedem a volta de Tite.
A Bolívia enfrentará o quinto colocado da CONCACAF — provavelmente Canadá, Estados Unidos ou Jamaica — em um jogo único, em casa, em março de 2026. A partida será realizada em La Paz, o que dá à Bolívia uma vantagem significativa por causa da altitude. A equipe tem chance real de avançar, especialmente se mantiver a mesma organização defensiva e aproveitar o apoio da torcida. É a melhor oportunidade da Bolívia de chegar a uma Copa do Mundo desde 1994.
La Paz fica a 3.600 metros acima do nível do mar, o que reduz a quantidade de oxigênio disponível em cerca de 35%. Jogadores de outras equipes sofrem com falta de fôlego, tontura e cãibras. A Bolívia já venceu o Brasil em La Paz em 1993 e 2009, e sempre foi difícil para qualquer time estrangeiro vencer ali. O clima, a altitude e a paixão da torcida criam um ambiente quase impossível — e foi exatamente isso que a Bolívia usou a seu favor.