Bolívia derrota Brasil 1 a 0 e envia Ancelotti à primeira derrota na história como técnico da Seleção

Bolívia derrota Brasil 1 a 0 e envia Ancelotti à primeira derrota na história como técnico da Seleção

Na terça-feira, 9 de setembro de 2025, um dos maiores choques da história das eliminatórias sul-americanas aconteceu em solo boliviano: Bolívia venceu o Brasil por 1 a 0, em partida válida pela última rodada das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. O gol da vitória foi marcado por Miguel Terceros, que converteu uma penalidade no primeiro tempo. O resultado não só garantiu à Bolívia uma vaga no playoff intercontinental, mas também impôs a Carlo Ancelotti — recém-chegado à seleção — sua primeira derrota como técnico da Seleção Brasileira.

Um gol, uma revolução

O gol de Terceros, aos 45 minutos, foi o único momento de clareza em uma partida marcada por pressão, erros e uma defesa boliviana impecável. O atacante, que joga no Club Bolívar, aproveitou um erro de marcação da zaga brasileira e cobrou com frieza, enganando o goleiro Ederson. A partir daí, o estádio em La Paz — a 3.600 metros de altitude — explodiu. O clima era de caos controlado: torcedores vestidos de amarelo e vermelho abraçavam-se, gritavam nomes de jogadores que, há pouco tempo, eram considerados meros figurantes no futebol sul-americano.

Quem imaginava que a Bolívia, com apenas 20 pontos em 18 jogos e um saldo de gols negativo de 18, poderia derrotar o Brasil, líder histórico de títulos mundiais? Ninguém. Mas o futebol, às vezes, não obedece aos rankings. O Brasil entrou em campo com a missão de garantir o quinto lugar, e conseguiu — mas a preço de um trauma coletivo. A equipe de Ancelotti teve 65% de posse de bola, 18 chutes (sete no alvo), mas falhou em transformar oportunidades em gols. O momento mais dramático veio aos 95 minutos, quando Raphinha, do Barcelona, disparou uma bomba de esquerda. A bola parecia certa. Até que Carlos Lampe, o goleiro boliviano de 34 anos, fez uma defesa que entrará para os livros de história. O reflexo foi de outro mundo.

Um treinador em crise

Ancelotti, ex-técnico do Real Madrid e da AC Milan, assumiu a seleção apenas nas últimas quatro partidas das eliminatórias. Sua chegada foi vista como um sinal de que a CBF queria trazer experiência europeia para um time que vinha se desgastando sob técnicos nacionais. Mas os números não mentem: em quatro jogos, ele teve dois empates, uma vitória e agora, esta derrota histórica. Uma taxa de aproveitamento de 52% — a pior da história do Brasil em campanhas de classificação. Para se ter ideia, na campanha de 2002, quando o Brasil venceu a Copa, o aproveitamento foi de 56%. E mesmo assim, aquele time foi campeão. Agora, o time que venceu em 2002 é lembrado como lendário. O time de 2025? É visto como um fracasso.

“Nós não jogamos mal”, disse Ancelotti após o jogo, com a voz pesada. “Mas faltou inteligência, faltou decisão. E quando você enfrenta uma equipe que joga com o coração, como a Bolívia, isso pesa.” Ele não escondeu a frustração. “Não é o fim do mundo. Mas é o fim de uma era. E nós precisamos entender isso.”

Brasil: o quinto lugar que não é vitória

Brasil: o quinto lugar que não é vitória

O Brasil terminou em quinto lugar na tabela, com 28 pontos, atrás de Argentina (38), Uruguai (28), Colômbia (28) e Equador (29). Ficou atrás de todos por saldo de gols — +7 contra +9 do Equador. A classificação foi definida com o resultado de Colômbia x Venezuela, que garantiu à Bolívia a sexta posição. Ainda assim, a sensação é de derrota. Não por não se classificar — mas por como se classificou. O Brasil, que já foi sinônimo de domínio, agora precisa se contentar com uma vaga no playoff. E o que é pior: não fez nada para merecer isso.

As estatísticas são assustadoras: 6 derrotas em 18 jogos, 12 gols marcados, 19 sofridos. O pior desempenho defensivo desde 1994. E a pressão sobre a CBF cresce. Afinal, o que aconteceu com um time que tinha Neymar, Vinícius Jr., Rodrygo, Endrick e um elenco recheado de jogadores de alto nível? A resposta é simples: falta de identidade. E de liderança.

Bolívia: o milagre que não era impossível

A Bolívia, por outro lado, viveu o momento mais feliz de sua história recente. Com apenas seis vitórias em 18 jogos, a equipe de Óscar “Tato” Sánchez superou as expectativas. O time, formado por jogadores da liga local e alguns expatriados, jogou com coragem, organização e um espírito coletivo raro no futebol moderno. Terceros, o herói do gol, não é um astro. É um jogador que, há dois anos, jogava na segunda divisão. Agora, é o nome que todos cantam nas ruas de La Paz.

“Isso não é sorte”, disse o técnico Sánchez, com os olhos marejados. “É trabalho. É respeito. É acreditar que, mesmo sendo pequenos, podemos vencer gigantes.” A Bolívia agora enfrentará um time de outra confederação — provavelmente da Oceania ou da Ásia — em um jogo único, em casa, para tentar alcançar a Copa do Mundo. É o seu primeiro playoff desde 2010. E desta vez, acredita-se que eles podem ir mais longe.

O que vem a seguir?

O que vem a seguir?

Ancelotti permanecerá no cargo. A CBF já confirmou que ele comandará os amistosos de novembro contra Senegal, em Londres, e Tunísia, em Lille. Mas a pressão é imensa. Os torcedores querem mudanças. Os jornalistas pedem explicações. E os jogadores? Eles estão em silêncio. O time precisa de uma reformulação completa. A idade média está alta. A liderança, frágil. A identidade, ausente.

Enquanto isso, a Bolívia celebra. E espera. O futebol mudou. O mundo viu que, mesmo com poucos recursos, a paixão pode derrubar impérios. E talvez, só talvez, isso seja o começo de algo maior.

Frequently Asked Questions

Como a Bolívia conseguiu se classificar para o playoff com apenas 20 pontos?

A Bolívia classificou-se em sexto lugar por ter um saldo de gols melhor que o Chile, que terminou em último com 11 pontos. Embora tenha perdido 10 jogos, a equipe venceu confrontos diretos importantes, como contra a Venezuela e o Peru, e aproveitou bem os empates fora de casa. O resultado da Colômbia contra a Venezuela, que terminou 3-1, foi o que fechou a classificação, garantindo à Bolívia a vaga no playoff intercontinental.

Por que a derrota para a Bolívia é considerada a pior campanha da história do Brasil?

O Brasil nunca havia terminado uma campanha de classificação com apenas 52% de aproveitamento (28 pontos em 54 possíveis). A campanha anterior mais fraca foi em 2002, com 56%. Além disso, foi a primeira vez desde 1994 que o Brasil perdeu para a Bolívia em eliminatórias — e a primeira vez que perdeu em casa da Bolívia desde 1985. A combinação de resultados ruins, falta de inspiração e derrota histórica torna esta a pior campanha em termos de desempenho e impacto psicológico.

Quem é Carlos Lampe e por que ele se tornou herói?

Carlos Daniel Lampe Heredia, 34 anos, é o goleiro titular da Bolívia desde 2017 e atua pelo Club Bolívar. Conhecido por sua agilidade e liderança, ele fez 12 defesas na partida contra o Brasil, incluindo a salvação decisiva contra Raphinha no fim do jogo. É o segundo goleiro mais velho a defender a seleção boliviana em uma eliminatória, e sua atuação foi comparada à de Dida em 2006 — quando o Brasil venceu a Itália por 2-1 com uma defesa heróica.

O que acontece agora com a Seleção Brasileira?

Ancelotti permanece no cargo, mas a pressão aumenta. A CBF já iniciou uma avaliação interna sobre a estrutura da seleção, com foco na renovação do elenco e na contratação de um coordenador técnico. Os amistosos de novembro contra Senegal e Tunísia serão testes cruciais. Jogadores como Endrick e Vinícius Jr. devem assumir mais responsabilidade, mas a ausência de um líder natural no vestiário é um problema sério. Muitos torcedores já pedem a volta de Tite.

Qual é o próximo adversário da Bolívia no playoff?

A Bolívia enfrentará o quinto colocado da CONCACAF — provavelmente Canadá, Estados Unidos ou Jamaica — em um jogo único, em casa, em março de 2026. A partida será realizada em La Paz, o que dá à Bolívia uma vantagem significativa por causa da altitude. A equipe tem chance real de avançar, especialmente se mantiver a mesma organização defensiva e aproveitar o apoio da torcida. É a melhor oportunidade da Bolívia de chegar a uma Copa do Mundo desde 1994.

Por que o estádio em La Paz é tão difícil para visitantes?

La Paz fica a 3.600 metros acima do nível do mar, o que reduz a quantidade de oxigênio disponível em cerca de 35%. Jogadores de outras equipes sofrem com falta de fôlego, tontura e cãibras. A Bolívia já venceu o Brasil em La Paz em 1993 e 2009, e sempre foi difícil para qualquer time estrangeiro vencer ali. O clima, a altitude e a paixão da torcida criam um ambiente quase impossível — e foi exatamente isso que a Bolívia usou a seu favor.

novembro 15 2025 Thalyta Selvatici Machado

Eliminatórias da Copa do Mundo Bolivia Brasil Carlo Ancelotti qualificação