Desfile cívico volta a Várzea Grande: mais de 3 mil celebram Independência no 6 de setembro

Desfile cívico volta a Várzea Grande: mais de 3 mil celebram Independência no 6 de setembro

Por Thalyta — Várzea Grande (MT)

Várzea Grande retoma tradição após 14 anos

Depois de 14 anos sem o desfile de 7 de Setembro, Várzea Grande voltou às ruas com uma celebração que encheu a cidade de bandeiras, fanfarras e famílias inteiras. No sábado, 6 de setembro de 2025, mais de 3 mil pessoas se reuniram para marcar a data da Independência do Brasil — um dia antes do calendário oficial — em uma demonstração clara de que a tradição cívica seguiu viva no imaginário local, mesmo pausada por mais de uma década.

O ajuste de data, antecipando a programação para o sábado, ajudou a distribuir as comemorações na região metropolitana e evitar conflito com o desfile de Cuiabá, realizado no domingo, 7 de setembro. Para quem acompanha a rotina das duas cidades irmãs, a mudança fez sentido: garantiu maior participação de instituições que atuam nos dois municípios e deu fôlego para a logística de trânsito e segurança.

O tema escolhido para marcar a retomada foi direto: "Étnico Racial". Em vez de uma abordagem genérica sobre patriotismo, a cidade colocou holofotes na diversidade que molda o Brasil — povos indígenas, população negra, descendentes de imigrantes e tantas outras histórias que se cruzam nos bairros e escolas de Várzea Grande. No palanque e ao longo do percurso, a ideia que se impôs foi simples: celebrar a Independência é também reconhecer quem a constrói todos os dias.

Participaram escolas da rede pública e privada, bandas e fanfarras estudantis, representantes das forças militares, escoteiros, projetos sociais e entidades da sociedade civil. Crianças uniformizadas, pais com celulares erguidos, idosos com broches do Brasil, gente com a camisa da seleção: o público misturou gerações e perfis. O clima foi de reestreia. Para muita gente, era a primeira vez assistindo a um desfile cívico na cidade.

A escolha por reativar a parada depois de tantos anos não aconteceu no vazio. Várzea Grande cresceu, ganhou novos bairros e viu sua cena cultural e educacional se reorganizar. Trazer o 7 de Setembro de volta para a rua abre espaço para que escolas e coletivos apresentem o que discutem em sala de aula — cidadania, identidade, respeito — e para que a população se reconheça nesses debates fora dos muros escolares.

Tema "Étnico Racial" e o recado das escolas

O recorte "Étnico Racial" encaixou com o momento. Em vez de pensar apenas em datas e heróis do século XIX, a cidade puxou o fio da atualidade: quem somos hoje, como convivemos e o que queremos projetar para as próximas gerações. Isso se traduziu em alas que ressaltaram a pluralidade da cultura brasileira, figurinos que remetem a matrizes africanas e indígenas, cores e símbolos que a comunidade reconhece no cotidiano.

Na prática, o desfile funcionou como uma vitrine do que as redes de ensino vêm trabalhando ao longo do ano. Professores costumam usar o 7 de Setembro para discutir direitos, deveres e a tal da “cidadania que se pratica”, e a retomada do evento deu um palco real para que essas discussões ganhassem corpo. A mensagem que apareceu, ainda que sem discursos longos, foi de inclusão: independência sem pertencimento não fecha a conta.

O formato colaborativo também chamou atenção. Ao lado das escolas, grupos culturais e entidades comunitárias participaram de forma organizada, o que deu diversidade ao ritmo do cortejo. Teve batida de fanfarra, teve coral escolar, teve apresentação coreografada. Em Várzea Grande, onde muita coisa acontece pela força das redes de vizinhança, esse encontro entre sala de aula e rua faz diferença.

Para além do simbolismo, a volta do desfile mexe com a rotina da cidade. O comércio informal aproveitou o fluxo de famílias, vendedores ambulantes apostaram nas cores verde e amarelo em fitas, bonés e pequenos brinquedos, e barracas de comida fizeram a alegria de quem chegou mais cedo. Eventos desse porte, mesmo que pontuais, aquecem a economia local e movimentam trabalhadores que vivem de datas comemorativas.

A estrutura montada considerou o básico de segurança e circulação, prática comum em atos desse tipo: bloqueios temporários, orientação de trânsito e áreas reservadas para grupos com mobilidade reduzida. Sem números detalhados divulgados, o que se viu foi um público espalhado por quarteirões, com famílias buscando sombra e pontos de água. Para quem organiza, serve de termômetro para a próxima edição.

A presença de forças militares manteve o caráter cívico que o 7 de Setembro carrega há décadas, mas o tom geral ficou nas mãos das escolas e da sociedade civil. É uma combinação que dialoga com a história recente do país: civismo como respeito às instituições, sim, e também como prática de diversidade e educação.

O calendário regional reforçou a estratégia. Cuiabá, cidade vizinha, realizou seu desfile no domingo, 7 de setembro, no dia oficial. Com as datas desencontradas, moradores puderam acompanhar as duas programações, e representantes de órgãos que atuam na região metropolitana dividiram equipes com menos atropelo. Para quem gosta da festa cívica, foi uma maratona de fim de semana.

Há um ponto de expectativa no ar: a retomada vai se firmar como tradição anual? Pelo que se viu nas arquibancadas improvisadas e nos sorrisos na dispersão, há público. Programar com antecedência, detalhar percurso, envolver mais escolas e ampliar acessibilidade são passos naturais para consolidar a volta. Quando a cidade se reconhece no próprio evento, ele tende a ficar.

Também pesa a marca do tema escolhido. "Étnico Racial" não é uma pauta para um único ano. Em cidades brasileiras de todos os tamanhos, discutir racismo, desigualdade e reconhecimento das identidades é tarefa contínua. O 7 de Setembro, por sua visibilidade, pode ser a vitrine anual para mostrar avanços, cobrar o que falta e celebrar o que dá certo. Várzea Grande, nesta reestreia, colocou o pé nessa trilha.

No fim, a fotografia do sábado ajuda a entender o momento: famílias no passeio, crianças com bandeirinhas, adolescentes nas bandas de percussão, idosos que lembram “como era antigamente”, e uma cidade que, depois de 14 anos, decidiu ir às ruas para lembrar que independência se celebra, mas também se pratica. O desfile voltou. E a rua respondeu.

setembro 8 2025 Thalyta Selvatici Machado

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