Quando Larry Summers anunciou sua renúncia ao conselho da OpenAI na quarta-feira, 19 de novembro de 2025, muitos acharam que era apenas mais um afastamento político. Mas a verdade era muito mais pesada: ele estava se despedindo de uma carreira inteira, envenenada por uma amizade que nunca deveria ter existido. Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA e ex-reitor de Harvard, mantinha e-mails com Jeffrey Epstein até um dia antes de seu arresto em 6 de julho de 2019. E não eram e-mails sobre economia. Eram mensagens estranhas, íntimas, desesperadas — sobre uma mulher que ele chamava de "mentora" e que ele queria conquistar. "A probabilidade de você voltar a estar deitado com ela é zero", respondeu Epstein, em tom de piada, antes de acrescentar: "Ela nunca vai encontrar outro Larry Summers. Probabilidade ZERO."
Uma amizade que durou até o fim
Os mais de 20.000 arquivos de e-mail liberados pelo comitê da Câmara dos Representantes em 13 de novembro de 2025 revelaram um padrão perturbador: Summers não apenas manteve contato com Epstein após sua condenação em 2008, como buscou conselhos dele sobre relacionamentos amorosos — mesmo depois que o Departamento de Justiça abriu uma investigação em fevereiro de 2019 sobre o famoso "acordo do século" que permitiu a Epstein evitar dezenas de acusações federais. O ex-ministro perguntava sobre a "probabilidade" de conquistar uma jovem acadêmica, comparando o cenário à previsão da reeleição de Trump. Epstein, por sua vez, respondia com ironia cruel, como se fosse um guru de sedução. Nada disso era anedótico. Era patológico.
Até mesmo o momento da despedida foi ambíguo. Summers disse, em comunicado, que se sentia "profundamente envergonhado" e assumiu "total responsabilidade". Mas não houve arrependimento sincero — apenas o cálculo de alguém que percebeu que o escândalo havia se tornado insustentável. Ele não se desculpou pela vítima. Não mencionou o sofrimento das mulheres que Epstein abusou. Focou apenas em si mesmo. E isso, para muitos, é o pior de tudo.
Harvard, o epicentro do escândalo
Harvard University, onde Summers foi reitor entre 2001 e 2006, anunciou na mesma quarta-feira que estava iniciando uma nova investigação sobre seus funcionários envolvidos com Epstein. A universidade já havia revisado doações de Epstein — R$ 9,1 milhões recebidos antes da condenação — mas nunca havia examinado relações pessoais. Agora, isso muda. Summers foi professor no Harvard Kennedy School's Center on Business and Government e ensinava até esta semana. Agora, não mais. Seu nome será removido de eventos, seus artigos deixarão de ser citados como autoridade. E mesmo assim, muitos alunos não acham que é suficiente.
"Sua associação com Epstein e suas interações são repugnantes", disse Eunice Chon, estudante e cofundadora da Coalizão Feminista de Harvard. "Não é só um erro de julgamento. É uma escolha moral que revela o que ele realmente valoriza: poder, influência e conexões, mesmo que sejam as mais podres."
Walter Johnson, professor de estudos africanos e afro-americanos, foi mais direto: "Eu não sentiria falta dele." E não foi um comentário emocional. Foi um juízo histórico. Johnson sabe que Summers foi um dos arquitetos da desregulação financeira nos anos 1990 — e agora, sabe que ele também foi um dos que legitimaram um predador.
Outros vínculos cortados — e o que isso significa
A queda de Summers foi em cascata. A Center for American Progress, o Yale Budget Lab, a Bloomberg e o The New York Times todos confirmaram o fim de seus vínculos. O contrato de colunista da Times, que terminaria em janeiro de 2026, não será renovado. A Bloomberg, que o mantinha como colunista desde 2021, o afastou imediatamente. O que isso mostra? Que as instituições, por mais que tentem se esconder atrás de "processos", estão sendo forçadas a escolher entre reputação e complicity.
Ray Madoff, professora de filantropia na Boston College Law School, apontou o cerne do problema: "Esses e-mails não são só sobre Summers. São sobre como instituições de prestígio se tornam reféns de doadores ricos — mesmo quando eles são criminosos." Epstein financiou centros acadêmicos, eventos, pesquisas. E em troca, ganhou acesso a salas de reuniões que nunca deveriam ter sido abertas para ele. Summers foi apenas o mais visível de uma longa lista.
Um passado já conturbado
Este não é o primeiro escândalo de Summers. Em 2005, ele gerou uma tempestade ao sugerir, em um discurso em Harvard, que mulheres poderiam ser menos aptas naturalmente para carreiras em ciência e matemática. Foi uma declaração que gerou protestos, pedidos de demissão e um pedido de desculpas que nunca foi totalmente aceito. Agora, 20 anos depois, o que parecia um erro acadêmico se revela parte de um padrão: a crença de que certas pessoas — homens brancos, ricos, poderosos — estão acima das regras morais que aplicam aos outros.
Além disso, foi em 2005 que Summers e sua esposa, a professora emérita Elisa New, visitaram a ilha privada de Epstein durante a lua de mel. Um dia. Menos que isso, segundo o porta-voz. Mas uma visita que, em retrospectiva, parece uma escolha deliberada — uma entrada simbólica no mundo de Epstein. Três anos antes da condenação de Epstein por prostituição de menores, Summers já estava lá. E ninguém questionou.
O que vem a seguir?
As instituições agora enfrentam uma pergunta difícil: até onde vão os efeitos colaterais de um relacionamento com um criminoso? Se Summers foi expulso, e Epstein morreu na prisão em 2019, quem mais está escondido nos arquivos? A investigação de Harvard pode revelar nomes de outros acadêmicos, políticos, empresários. E se isso acontecer, será apenas o começo. Porque o problema não é Summers. O problema é o sistema que permitiu que ele, e tantos outros, operassem com impunidade.
Um legado em ruínas
Larry Summers foi um dos economistas mais influentes da última geração. Seu nome aparece em livros-texto, em decisões de política monetária, em discursos da Reserva Federal. Mas agora, seu legado está em pedaços. Não por erros técnicos. Não por divergências ideológicas. Mas por uma escolha moral que ele não apenas fez — mas que continuou, anos após o mundo já saber quem Epstein era.
Quando a história escrever sobre ele, não vai lembrar das previsões de crescimento ou das reformas tributárias. Vai lembrar das mensagens que ele trocou com um predador. E da pergunta que ninguém mais ousa fazer: quantos outros, como ele, ainda estão sentados em mesas de conselho, com as mãos limpas — mas os olhos abertos para o que acontece nas sombras?
Frequently Asked Questions
Como Summers conseguiu manter contato com Epstein mesmo após a condenação dele em 2008?
Apesar da condenação de Epstein por prostituição de menores em 2008, Summers continuou a interagir com ele por mais de uma década. Isso foi possível porque Epstein, mesmo preso, manteve redes de influência e acesso a elites. Summers o via como um "consultor financeiro" e um contato valioso em círculos de riqueza — ignorando os crimes que já eram públicos. A falta de supervisão ética em instituições como Harvard permitiu que esse relacionamento persistisse sem questionamentos.
Quais instituições já cortaram vínculos com Summers?
Summers renunciou ao conselho da OpenAI, deixou o Centro de Negócios e Governo da Harvard Kennedy School, foi afastado da Bloomberg como colunista e teve seu contrato com o The New York Times não renovado. O Center for American Progress e o Yale Budget Lab também confirmaram o fim de suas associações. Essas decisões foram tomadas em menos de 48 horas após a divulgação dos e-mails, indicando pressão pública e institucional sem precedentes.
O que a universidade de Harvard fez em relação às doações de Epstein?
Harvard já havia reconhecido receber US$ 9,1 milhões de Epstein antes de sua condenação, e doou os fundos não utilizados a organizações que apoiam vítimas de tráfico sexual. Mas a investigação anterior, conduzida sob o reitorado de Larry Bacow, não examinou relações pessoais entre Epstein e funcionários da universidade. Agora, com os novos e-mails, a universidade está obrigada a investigar se professores ou administradores tiveram contatos diretos — algo que nunca foi feito antes.
Por que os e-mails de Summers são tão chocantes?
Eles mostram Summers buscando conselhos sobre como seduzir uma jovem acadêmica, tratando-a como um "projeto" e usando linguagem que mistura manipulação com cálculo estatístico. Epstein respondeu com ironia cruel, como se fosse um mentor de corrupção. O choque não está apenas no conteúdo, mas no fato de que Summers, um dos intelectuais mais respeitados dos EUA, se reduziu a pedir aprovação a um criminoso sexual. Isso revela uma desumanização sistêmica entre elites.
Há risco de outras pessoas serem expostas por causa desses e-mails?
Sim. Os mais de 20.000 arquivos liberados incluem comunicações com dezenas de nomes de acadêmicos, políticos e empresários. Embora Summers seja o mais conhecido, investigadores já indicam que há pelo menos 15 outros indivíduos com correspondências significativas com Epstein. A pressão por transparência está crescendo, e novas revelações podem surgir nas próximas semanas, especialmente se órgãos como o FBI ou o Congresso decidirem ampliar a investigação.
Summers já se desculpou pelas vítimas de Epstein?
Não. Em todos os seus comunicados, Summers apenas se desculpou por "seus próprios erros de julgamento" e pelo "sofrimento causado" — mas nunca mencionou as mulheres que foram abusadas por Epstein. Ele não pediu perdão a elas, não as nomeou, não reconheceu sua dor. Isso é visto por ativistas e sobreviventes como uma falha moral fundamental: ele se arrependeu de ter sido pego, não de ter se associado a um predador.