Na noite de 31 de outubro de 2024, a Prime Video estreia Tremembé, uma minissérie de crime real que mergulha no coração de um dos presídios mais temidos do Brasil — a Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, conhecida como Tremembé II, em Tremembé, interior de São Paulo. A produção, inspirada nos livros do jornalista Ulisses Campbell, traz a história de mulheres que cometeram crimes chocantes e agora vivem sob o mesmo teto, entre intrigas, amores proibidos e poderes ocultos. E a protagonista? Marina Ruy Barbosa, em um dos papéis mais ousados de sua carreira: Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos por planejar o assassinato dos próprios pais em 2002. Não é apenas atuação. É um espelho da sociedade brasileira, refletindo o fascínio e o horror que esses casos ainda provocam.
Os homens também têm espaço: Felipe Simas como Daniel Cravinhos, o amante de Suzane que ajudou a matar os pais dela; Kelner Macêdo como Cristian Cravinhos, o irmão; e Anselmo Vasconcelos como Roger Abdelmassih, o médico acusado de abusar de dezenas de pacientes. Cada ator carrega o peso de um nome que ainda ecoa nas manchetes. E o mais curioso? Muitos desses criminosos ainda estão vivos — e alguns, ainda dentro das mesmas paredes que a série retrata.
Segundo o site AdoroCinema, a série busca “mostrar o que acontece quando o mal se torna cotidiano”. E isso é o mais assustador. Não são os crimes que chocam — são os dias seguintes. O café da manhã. A conversa no pátio. O olhar que se evita. A série não julga. Ela observa. E nisso está sua força.
Enquanto isso, a Penitenciária de Tremembé continua funcionando. As celas ainda estão cheias. As vozes ainda se ouvem. E agora, milhões vão ver o que acontece dentro delas. O que será que os espectadores vão levar para casa? Medo? Piedade? Ou apenas mais um caso para comentar no WhatsApp?
Marina Ruy Barbosa foi escolhida por sua capacidade de transmitir complexidade emocional sem exageros. Suzane não é uma vilã clássica — é uma mulher manipuladora, inteligente e profundamente isolada. A atriz já demonstrou em outras produções, como em Amor de Mãe, que consegue equilibrar fragilidade e frieza, algo essencial para retratar uma personagem que manipulou todos à sua volta sem demonstrar remorso aparente.
Sim, em grande parte. Os roteiristas, incluindo Ulisses Campbell, usaram processos judiciais, entrevistas e livros como base. Porém, há elementos dramatizados — como diálogos e cenas de interação entre detentas — que não foram registrados oficialmente. O objetivo não é ser um documentário, mas sim criar uma narrativa envolvente que respeite a verdade dos fatos, mesmo quando os detalhes são inventados.
Além do assassinato dos pais de Suzane, a série aborda o caso de Elize Matsunaga, que esquartejou o marido em 2012; Anna Carolina Jatobá, condenada pela morte da enteada Isabella Nardoni em 2008; e Roger Abdelmassih, acusado de abusar sexualmente de dezenas de pacientes. Cada personagem tem seu próprio arco, mostrando como o ambiente prisional afeta diferentes tipos de criminosas.
Tremembé II abriga as mulheres mais notórias da criminalidade brasileira desde 2002. É o único presídio feminino do país com uma concentração tão alta de criminosas de alto perfil. A mídia a transformou em um símbolo — um lugar onde o crime se torna lenda. A própria estrutura, isolada e com pouca transparência, alimenta o mistério. A série aproveita esse mito para explorar a humanidade por trás dos nomes que viraram manchetes.
Nem uma coisa nem outra. A série evita o julgamento moral. Em vez disso, ela mostra como o sistema prisional, a falta de reabilitação e o isolamento social moldam essas mulheres. O público é convidado a entender — não a justificar. É um retrato sem piedade, mas também sem vitória. O verdadeiro vilão, talvez, seja a indiferença da sociedade.
Apesar de ambientada na Penitenciária de Tremembé, a produção foi filmada em estúdios e em locações que simulam a estrutura do presídio, por questões de segurança e logística. Nenhuma gravação ocorreu dentro do presídio real. A equipe usou arquitetura, iluminação e som para criar uma atmosfera autêntica, com base em fotos, vídeos e relatos de ex-detentas e funcionários.